Sagres é o desafio da terra feito à imensidão mar, é como que uma provocação às fúrias das ondas, e uma ameaça a tanto azul.
Andava eu feito turista, e entre rajadas furiosas de ventos, intensas, protestantes, sem fim, ganhava coragem e tirava mais uma foto. A um canhão, ao mar sem fim, ao veleiro que longe navega, à imponência das alturas em rochas beijadas num fundo que parecia irreal, por vagas de espuma e sopros de azul.
Cheguei-me á beira, mesmo à beirinha e senti um arrepio. Profundo, as rajadas de um vento que sempre ali fustigam sem piedade a terra, uma sensação de abismo sem quaisquer limites, sem fim, parecia sorver-me, às entranhas da terra. Entre mim, e tudo o que podia ver lá em baixo, parecia um céu inteirinho entre a terra e o mar.
Quando me retirava, procurando afastar essa visão assustadora, não pude deixar de a encontrar, uma esplêndida teia de aranha se espraiava, como se fosse um véu aberto sobre o mar. E a dita, laboriosa andava por ali, na caça.
Que medo… apontar a máquina, procurando audaciosamente aproximar-me o mais possível, não podendo, nem num único espacito de um segundo deixar de sentir todo aquele azul lá em baixo. Sentia tudo isso, as correntes de ar, fustigando o promontório, as aves por de baixo esvoaçando, e sempre o azul, e mais azul, e as neblinas.
Parecia estar pendurado no céu, com a maquineta dos retratos na mão – olhos esbugalhados, coração a bater forte – enquanto imaginava já uma foto bem conseguida. E clickei, uma e ainda mais outra vez, e confesso, senti que cometera um feito, quanto mais não seja de pequeno aventureiro. Ou de aloucado irresponsável.
São, todavia, estes momentos que nos fazem perceber que algo dentro de nós nos faz suplantar a coisa simples, enriquecendo este corpo com insondável magia, ou alma, ou rasgos de loucura a que chamamos coragem.
E tudo isto por uma simples foto. De uma aranha? A sério? Que loucura…
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